Aluísio Azevedo consegue nesta obra, a maestria de pintar os grandes agrupamentos humanos. Estes são formados por pessoas sem traço nenhum de grandeza que se permitem, pela força do meio, corromperem-se moralmente.
Considerado um romance de espaço, o romancista concede primazia à pintura do meio histórico e do ambiente social no qual decorre a intriga.
Relacionando o ambiente com as características sociais e psicológicas dos indivíduos que o habitam, o cortiço torna-se a justificativa para transformações comportamentais de pessoas como o trabalhador Jerônimo, que abandona a família para viver com a mulata Rita Baiana, que o conquista com o seu requebro de cobra amaldiçoada.
E também da jovem e virgem Pombinha, que se envolve com a prostituta Léonie. Além do português João Romão, que constrói o cortiço com material roubado dos lotes vizinhos e tem, na escrava Bertoleza, uma espécie de burro de carga. A negra trabalha para o seu homem, e ao final do enredo, prefere enfiar , nas entranhas, a faca com a qual limpava os peixes para a janta de seu homem, a voltar a ser escrava de seu antigo senhor.
Fechando o ciclo iniciado por Azevedo com O Mulato, percebemos que o romancista desce na escala social: primeiro, Raimundo, mulato, advogado, pertencente à burguesia. Em seguida, Amâncio, uma casa de cômodos, classe média, vizinha do proletariado; e finalmente, um cortiço, metaforizado na habitação coletiva, povoada de seres marginalizados pela cor, a falta de dinheiro ou a desgraça.
Essa descida na escala social ascende Aluísio Azevedo ao patamar de um dos maiores escritores naturalistas da nossa literatura.
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