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segunda-feira, 14 de março de 2011

Bom Crioulo


Imaginem vocês uma história que mostre em pleno século XIX , um romance homossexual entre um grumete louro e olhos azuis, e um negro. Na ficção isto ocorreu, sob as pinceladas de Adolfo Caminha, fundador do homoerotismo em nossa literatura.

O Bom Crioulo é o primeiro romance  homossexual da literatura brasileira, e também o pioneiro em mostrar o sexo inter-racial em plena marinha, temas tabus para a época (1895).
Amaro é um escravo foragido que anseia ser dono de seu próprio destino. É aceito como marinheiro, o que lhe permite realizar o seu sonho de liberdade e que, associado ao seu físico, "sem um osso à vista", claramente mais possante que o dos outros marujos, o transforma em alguém voluntarioso e benevolente, de tal forma que recebe a alcunha "Bom Crioulo".
Este conhece Aleixo, um belo grumete adolescente louro, de olhos azuis, por quem se apaixona. Amaro deixa de ser o marinheiro submisso. Envolve-se em brigas para defender o seu amado, embebeda-se, é castigado. Mas o que obtém em troca é mais gratidão que amor.
No Rio de Janeiro, Amaro arranja um quarto para si e para Aleixo na pensão de uma portuguesa, D. Carolina, antiga prostituta que aquele havia salvado de uma tentativa de assalto. 
A vida com Aleixo é quase marital, e o Bom Crioulo, enfrentando alguma impaciência do rapaz, deleita-se mais em apreciar longamente o seu lindo corpo alvo do que com a obtenção do prazer sexual.
Mas esta vida quase matrimonial é efêmera, pois o capitão do navio para onde Amaro é transferido mostra-se extremamente rígido, dando-lhe folga apenas uma vez por mês, o que dificulta o encontro dos amantes, que deixam de se ver. Para piorar, D. Carolina decide seduzir o adolescente; este se apaixona por ela.
Amaro abandona-se à aguardente, desequilibrado, arranja confusão e é repetidamente castigado. Transferido para um hospital-prisão, mergulha no tédio da recuperação e do abandono. Solitário e frustrado, Amaro fica inquieto ao saber que Aleixo o teria traído com uma mulher. Foge da prisão e, já perto da pensão, encontra Aleixo e mata-o tragicamente à navalhada no meio de uma multidão quase indiferente.


*Atores Marco Fuga (bom crioulo) e Pedro Cabizuca na encenação da peça que leva o nome da obra de Adolfo Caminha.

Um comentário:

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